O que é biomagnificação?
Biomagnificação é o processo pelo qual substâncias tóxicas, que não são facilmente eliminadas pelos organismos,
vão se acumulando e aumentando de concentração à medida que passam de um nível trófico para outro na cadeia alimentar.
Assim, os predadores de topo acabam acumulando as maiores concentrações dessas substâncias, mesmo que elas estejam presentes
em pequenas quantidades no ambiente.
Esse fenômeno é especialmente preocupante porque envolve substâncias chamadas de persistentes, ou seja,
que não se degradam facilmente no meio ambiente nem nos organismos vivos. Por isso, uma substância tóxica
pode permanecer circulando nos ecossistemas por muitos anos, afetando várias gerações de seres vivos.
Como ocorre o processo?
O processo de biomagnificação começa com organismos menores, como algas e pequenos animais aquáticos, que absorvem poluentes presentes na água ou no solo. Esses organismos são consumidos por outros maiores, e as substâncias tóxicas são transferidas e acumuladas, pois não são metabolizadas nem excretadas facilmente. Com cada novo predador na cadeia alimentar, a concentração dessas toxinas aumenta, atingindo níveis muito altos nos predadores de topo.
A biomagnificação é um processo gradual e silencioso. Por exemplo, pequenos peixes consomem organismos contaminados com metais pesados e, ao serem comidos por peixes maiores, transmitem essas substâncias para eles. Como cada predador consome vários indivíduos contaminados, a quantidade de toxina ingerida vai aumentando. Esse acúmulo é potencializado porque os organismos não possuem mecanismos eficientes para eliminar essas substâncias, que se depositam em tecidos como gordura e músculos, afetando funções vitais.
Consequências da biomagnificação
A biomagnificação traz sérias consequências para os seres vivos e os ecossistemas. Nos animais, pode causar problemas neurológicos, reprodutivos, imunológicos e até a morte. Nos seres humanos, o consumo de alimentos contaminados pode resultar em intoxicação alimentar, doenças crônicas e defeitos congênitos. Além disso, ela compromete cadeias alimentares inteiras, afetando a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.
Além de afetar diretamente a saúde dos organismos, a biomagnificação pode provocar desequilíbrios ecológicos significativos. Espécies predadoras no topo da cadeia alimentar, como aves de rapina, mamíferos aquáticos e grandes peixes, são as mais afetadas e podem sofrer declínio populacional ou até extinção local. Isso altera as relações ecológicas e compromete a estabilidade dos ecossistemas. Para os seres humanos, a biomagnificação representa um risco alimentar, principalmente para comunidades que consomem grandes quantidades de peixes ou frutos do mar contaminados.
Biomagnificação em Brumadinho
Após o desastre, estudos identificaram a presença de metais pesados nos organismos aquáticos e na população local. Esses metais, ao entrarem na cadeia alimentar, iniciam processos de bioacumulação e biomagnificação. Peixes e outros organismos aquáticos absorvem os metais presentes na água e nos sedimentos. Quando esses peixes são consumidos por predadores ou por seres humanos, a concentração de metais aumenta, elevando os riscos de efeitos tóxicos.
Impactos na Saúde Humana
Contaminação generalizada: Estudos da Fiocruz e da UFRJ revelaram que 100% das crianças de até 6 anos em Brumadinho apresentaram pelo menos um dos cinco metais pesados analisados na urina. Entre 2021 e 2023, a proporção de crianças com níveis de arsênio acima do valor de referência aumentou de 42% para 57% .
Exposição em adolescentes e adultos: Pesquisas indicaram que 28,9% dos adolescentes tinham níveis de arsênio total na urina acima dos limites de referência, enquanto 52,3% apresentavam níveis elevados de manganês no sangue. Nos adultos, 33,7% tinham arsênio total na urina acima dos valores de referência .